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Recentemente, a polêmica sobre a PPK Cláudia e a campanha Gillette Venus tomou conta da internet. Voltada para seu barbeador Gillette Venus e direcionada ao público feminino, a campanha introduziu uma abordagem inovadora ao apresentar a influenciadora PPK da Claudia, uma mascote em formato de vulva que discute cuidados íntimos e pessoais do universo feminino.

Enquanto homem, reconheço a importância de não opinar diretamente sobre assuntos relacionados à experiência feminina. No entanto, ao observar as reações e opiniões expressas por mulheres em várias redes sociais, fica evidente que a campanha despertou um amplo espectro de sentimentos e perspectivas.

Neste artigo, iremos explorar as diferentes perspectivas e reações geradas pela campanha. Faremos uma análise dos posicionamentos divergentes que surgiram nas redes sociais a respeito da polêmica sobre a campanha Gillette Venus, examinaremos a estratégia da marca Gillette ao expandir sua atuação para o público feminino e discutiremos os prós e contras da abordagem adotada. Além disso, refletiremos sobre a representação de gênero na publicidade e como a campanha pode ter impactado as mulheres, levantando questões sobre o empoderamento feminino, a liberdade de escolha e a busca por corpos mais naturais.

Gillette Venus

A Gillette é uma renomada marca global no segmento de cuidados pessoais, amplamente conhecida por seus produtos de barbear, que têm sido um símbolo de qualidade e eficiência há décadas. Com uma história de sucesso, a Gillette estabeleceu-se como líder no mercado masculino, oferecendo barbeadores e produtos relacionados voltados principalmente para os homens.

Goleiro Alisson em campanha para Gillette

Goleiro Alisson em campanha para Gillette

No entanto, em uma era em que a igualdade de gênero e a diversidade são temas cada vez mais relevantes, a Gillette reconheceu a necessidade de expandir sua atuação para atender às necessidades específicas das mulheres. Com isso em mente, a marca lançou o Gillette Venus, uma linha de produtos de cuidados pessoais femininos, incluindo barbeadores projetados para o público feminino.

Essa iniciativa de entrada no mercado feminino foi uma resposta à demanda crescente por opções de qualidade e conforto para a depilação e cuidados pessoais das mulheres. A Gillette utilizou sua experiência e expertise para desenvolver produtos que atendem às necessidades únicas das mulheres, oferecendo uma experiência suave e eficaz de barbear. Essa estratégia de expansão de mercado demonstra a vontade da Gillette em evoluir e se adaptar aos novos padrões e exigências da sociedade, além de reconhecer a importância de fornecer soluções personalizadas para todas as pessoas, independentemente do gênero.

PPK Claudia: a influenciadora do Gillette Venus

A personagem PPK da Claudia tornou-se uma figura central na campanha do Gillette Venus. De acordo com a agência Grey Brasil, responsável pela criação desse personagem, o nome Claudia foi inspirado na atriz Claudia Ohana, que ganhou notoriedade nos anos 90 por compartilhar suas experiências relacionadas à depilação íntima. Essa escolha estratégica de nome busca estabelecer uma conexão de familiaridade e identificação com o público feminino, trazendo à tona referências e memórias que podem ressoar na vida das mulheres.

A mascote PPK da Claudia já conquistou um considerável número de seguidores, com mais de 30 mil pessoas acompanhando seu perfil no Instagram. Essa popularidade pode ser atribuída, em parte, à natureza inusitada e ousada do personagem. A abordagem de representar uma vulva como uma figura falante e carismática é certamente um desvio das estratégias de marketing convencionais, o que desperta curiosidade e gera engajamento nas redes sociais.

Ao trazer uma personagem tão singular como Claudia, a campanha do Gillette Venus busca romper com os tabus e estigmas associados à depilação íntima feminina. A ideia por trás dessa estratégia é trazer leveza e humor para uma temática que muitas vezes é tratada com seriedade e constrangimento. Ao humanizar e personificar a vulva por meio de Claudia, a campanha busca criar um espaço de diálogo aberto e inclusivo sobre os cuidados íntimos e pessoais, estimulando conversas que normalmente seriam consideradas “delicadas” ou “tabu”.

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Opiniões divergentes nas redes sociais

A campanha gerou uma verdadeira polarização de opiniões entre as mulheres nas redes sociais. Essa diversidade de perspectivas pode ser observada nos comentários do Instagram, onde a maioria das mulheres se manifestam de forma contrária à abordagem adotada pela campanha.

Um exemplo disso é o comentário da usuária @alenjes2, que expressou seu agrado pela campanha, destacando a importância de promover uma relação positiva com as partes íntimas femininas e elogiando o design leve e agradável do personagem. Seu comentário obteve 81 curtidas até o momento, evidenciando o apoio de outras pessoas em relação à campanha.

No entanto, nem todos compartilham a mesma visão. A usuária @marta.nascimento13 expressou sua desaprovação em relação à campanha, classificando-a como de “extremo mal gosto” e questionando como tal conceito foi aprovado. É importante destacar que esse é apenas um exemplo das críticas direcionadas à campanha, representando uma perspectiva individual.

 

A palestrante de Diversidade LGBTQIAP+, Maira Reis, expressa sua opinião contundente via Linkedin em relação à campanha. Segundo ela, em pleno ano de 2023, a marca reforça a transfobia ao criar um influenciador infantilizado que perde a oportunidade de abordar questões de gênero e sexualidade de maneira inclusiva e inspiradora. Maira enfatiza que, ao abordar um assunto considerado tabu, não há espaço para suavizar ou ser neutro. É preciso tomar posicionamento consciente e autêntico, caso contrário, a empresa estará perpetuando inconscientemente ideias retrógradas.

A crítica de Maira vai além da escolha da influenciadora e questiona a forma como a mensagem é comunicada, bem como o que essa representação significa para a marca e para o mercado. Ela destaca que a campanha transmite a imagem de uma empresa conservadora, mesmo tentando se mostrar atualizada. Maira levanta uma questão relevante ao questionar quantas pessoas trans e/ou não-binárias fizeram parte do planejamento dessa ideia e se suas opiniões foram consideradas.

Essas opiniões controversas refletem a complexidade das questões relacionadas à feminilidade e aos cuidados íntimos. Cada mulher possui experiências, valores e preferências individuais que moldam sua visão sobre esses assuntos. O que pode ser visto como empoderamento e liberdade de escolha para algumas mulheres, pode ser interpretado como objetificação ou reforço de estereótipos para outras.

Reações das Claudias

Nas redes sociais, é perceptível a grande quantidade de comentários de pessoas com o nome de “Cláudia” expressando clara incomodação em relação ao tema abordado na campanha do Gillette Venus. Essas mulheres, que compartilham o mesmo nome da personagem, manifestaram sua insatisfação e até mencionaram a possibilidade de tomar medidas legais contra a empresa, alegando assédio moral e outros problemas decorrentes do uso de seus nomes.

Claudia Penteado

Um exemplo contundente das reações geradas pela campanha pode ser observado no LinkedIn, onde a jornalista Claudia Penteado, que compartilha o mesmo nome da personagem, expressou sua insatisfação. Em seu comentário, Claudia questionou a capacidade das empresas e marcas em abordar questões de gênero na publicidade, destacando a lógica ultrapassada e infantilizada da ação. Ela levantou a reflexão sobre a possibilidade de acender uma “luzinha vermelha” nos envolvidos durante o processo de criação, considerando que empresas conceituadas e especialistas em equidade de gênero estavam envolvidas na campanha.

As palavras de Claudia Penteado ecoam a frustração e a descrença de muitas pessoas diante da abordagem adotada na campanha. Ela questiona se é realmente tão difícil criar uma ação que seja sensível e atualizada em relação às questões de gênero. Além disso, Claudia destaca a desconexão entre a realidade da vida cotidiana e a autocomplacência presente em eventos como Cannes, onde tendências e inovação na comunicação são celebradas enquanto situações reais são deixadas de lado.

Claudia Dedeski

Claudia Dedeski, Product Owner, expressa sua opinião de forma enfática. Ela destaca a associação do nome “Claudia” com a genitália feminina, questionando se a equipe responsável pela campanha considerou as repercussões negativas desse vínculo em uma sociedade patriarcal e machista. Além disso, Claudia critica a representação da influenciadora, com o cabelo crespo sendo raspado, levantando a questão se essa abordagem atualiza o estereótipo de que o cabelo crespo é semelhante a palha de aço.

A palestrante também aponta a infantilização da personagem e a problemática associação com a realidade de uma consumidora e sua rotina de cuidados. Claudia ressalta a semelhança entre essa abordagem e os problemas envolvendo abuso de menores, expressando preocupação com essa representação.

Ela critica o fato de a equipe de criação ser majoritariamente composta por mulheres, afirmando que, com amigas assim, quem precisa de inimigas. Claudia questiona por que ninguém da equipe utilizou seus próprios nomes se a campanha era tão fantástica, concluindo que fazer piada com a desgraça alheia é um prazer para alguns.

Essas reações destacam a sensibilidade e a importância de evitar o uso de elementos que possam causar desconforto ou ofender certos grupos. Embora a intenção da campanha tenha sido criar uma identificação com o público feminino, o uso do nome “Cláudia” acabou se tornando motivo de incômodo para algumas mulheres que compartilham esse nome.

É fundamental que as marcas tenham consciência das possíveis ramificações de suas estratégias de marketing e estejam atentas à diversidade de experiências e sensibilidades presentes na sociedade. Ao abordar questões delicadas e pessoais, como a feminilidade e os cuidados íntimos, é necessário considerar cuidadosamente os elementos utilizados, garantindo que não haja associações indesejadas ou ofensivas.

Bráulio

 

Nos anos 90, o Ministério da Saúde lançou uma campanha chamada Bráulio, que buscava ensinar como usar a camisinha como forma de conter a epidemia do HIV. A campanha, na época, foi um grande sucesso, mas também envolveu algumas polêmicas semelhantes às da campanha da Claudia. Assim como no caso da Claudia, a campanha do Bráulio gerou reações controversas entre o público e levantou questões sobre representação e sensibilidade.

O personagem Bráulio, conhecido por seu humor irreverente, também foi alvo de críticas relacionadas à objetificação e estereotipação de certos grupos. Alguns argumentaram que o personagem Bráulio reforçava estereótipos negativos, promovendo uma imagem caricatural e reducionista da masculinidade.

Assim como no caso da Claudia, a discussão sobre a campanha do Bráulio levantou questões importantes sobre a responsabilidade das empresas e agências de publicidade na criação de conteúdo que respeite a diversidade e promova a inclusão. A polêmica envolvendo o Bráulio dos anos 90 evidencia a importância de uma reflexão crítica e da conscientização sobre o impacto que a publicidade pode ter na percepção e na construção social de estereótipos.

Conclusão

É válido destacar que, como homem, meu papel é apenas expor as reações das mulheres diante da campanha do barbeador Gillette Venus com a mascote PPK da Claudia. A campanha certamente alcançou seu objetivo de gerar branding e repercussão, uma vez que se tornou um trending topic nas redes sociais, incluindo o Twitter.

No entanto, é fundamental reconhecer e respeitar a diversidade de perspectivas e experiências das mulheres. Abordagens que possam causar desconforto ou ofensa devem ser evitadas, especialmente quando se trata de questões íntimas e pessoais. É responsabilidade da marca refletir sobre os feedbacks recebidos e ajustar suas estratégias de comunicação para garantir uma abordagem respeitosa e inclusiva em relação ao seu público-alvo.

Considerando o sucesso em chamar a atenção nas redes sociais, fica evidente que a campanha cumpriu seu objetivo de fazer barulho. No entanto, é importante lembrar que a repercussão positiva ou negativa não deve ser o único indicador de sucesso de uma campanha. O respeito às opiniões e vivências das mulheres deve estar no centro das estratégias de comunicação, assegurando que todas se sintam representadas e valorizadas. A marca deve estar disposta a ouvir as vozes do público e aprender com as críticas recebidas, a fim de aprimorar suas abordagens e promover uma comunicação respeitosa e inclusiva.

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