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Durante o período turbulento da história brasileira, entre 1964 e 1985, o futebol foi utilizado como uma poderosa ferramenta de propaganda pelo Regime militar, que buscava consolidar seu poder, promover sua ideologia e moldar a opinião pública.

O futebol sempre ocupou um lugar especial no coração dos brasileiros, sendo um esporte que transcende barreiras sociais, étnicas e culturais. O regime militar enxergou nessa paixão nacional uma oportunidade única de conquistar a adesão popular e fortalecer sua imagem perante a sociedade.

Ao longo dos anos de ditadura, os estádios se transformaram em palcos de espetáculos propagandísticos, onde o governo promovia uma atmosfera de patriotismo, unidade e suposto progresso. Os jogos eram utilizados como uma vitrine para exaltar o Brasil como uma nação forte, próspera e unida.

Através de campeonatos, seleção nacional e construções de estádios, o regime militar buscava criar uma narrativa que reforçasse a estabilidade e o desenvolvimento do país, desviando a atenção de questões políticas e sociais mais críticas.  No entanto, por trás dessa fachada, havia uma realidade complexa. Muitas vezes, a promoção do futebol como propaganda do regime militar servia para encobrir violações dos direitos humanos, censura à imprensa e repressão política.

Propaganda e a Construção de uma Imagem Positiva do Regime

O regime militar no Brasil teve início em 1964, em meio a um contexto de intensa polarização política e social. O presidente João Goulart, conhecido como Jango, assumiu o poder em 1961 após a renúncia de Jânio Quadros. Durante seu mandato, Jango implementou uma série de medidas que desagradaram a elite e setores conservadores da sociedade.

Uma das medidas mais controversas de Jango foi a implementação das chamadas Reformas de Base, um conjunto de propostas de cunho social, político e econômico que visavam promover a modernização do país e reduzir as desigualdades. Essas reformas incluíam a reforma agrária, a nacionalização de empresas estrangeiras, a ampliação dos direitos trabalhistas e a participação dos trabalhadores na gestão das empresas.

Propaganda de rádio para convocação para o Comício feito pela Rádio Nacional

 

Comício a favor das Reformas propostas por Jango

Comício a favor das Reformas propostas por Jango

 

Essas medidas progressistas de Jango e sua aproximação com o comunismo geraram uma forte reação por parte da elite brasileira, que viam ameaçados seus interesses econômicos e a ordem social vigente. A insatisfação com as políticas de Jango e o temor de uma suposta ameaça comunista foram utilizados como justificativas para incitar o golpe militar.

Propagandas financiadas pela elite

No dia 19 de março de 1964, ocorreu um dos eventos emblemáticos do contexto que antecedeu o golpe militar no Brasil: a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”. Essa marcha, organizada pela elite brasileira (empresários, banqueiros e grandes proprietários de terras) em parceria com a Igreja Católica e grupos conservadores, foi um marco na mobilização contrária ao governo de João Goulart e teve uma estreita relação com a propaganda que visava legitimar o golpe.

A “Marcha da Família com Deus” foi uma manifestação de massa que reuniu milhares de pessoas em diversas cidades brasileiras. Utilizando uma retórica de defesa da família, da moral e da religião, a marcha se apresentava como uma resposta à suposta ameaça comunista representada pelo governo de Jango. Por meio de faixas, cartazes e discursos, a propaganda da marcha enfatizava a importância da união familiar e da fé em Deus como fundamentos da sociedade.

Nesse contexto, a propaganda desempenhou um papel crucial na disseminação da mensagem da marcha, promovendo a adesão e a participação da população. Através de anúncios em jornais, spots de rádio e panfletos distribuídos em igrejas e espaços públicos, a propaganda incentivava a adesão à marcha, buscando criar um clima favorável à intervenção militar.

Ao unir a mobilização popular e a propaganda, a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” colaborou para a construção de uma narrativa que justificava a necessidade do golpe militar. Ela representou um dos momentos-chave em que a sociedade civil se engajou ativamente na promoção de uma visão anticomunista e conservadora, contribuindo para a formação de um ambiente propício à intervenção militar.

Slogans e campanhas publicitárias que exaltavam o governo

Durante o regime militar no Brasil, as propagandas desempenharam um papel central na disseminação da ideologia do governo e na criação de uma imagem positiva do regime. Através de diversas estratégias de comunicação persuasiva, o governo buscava influenciar a opinião pública, legitimar suas ações e promover a adesão popular ao regime autoritário.

Mídia impressa

As propagandas também exerceram um papel importante na influência da opinião popular durante o regime militar. Elas foram usadas para construir uma imagem positiva do governo, retratando-o como um regime de progresso, modernização e segurança. As propagandas enfatizavam os avanços econômicos, os programas de desenvolvimento e a suposta estabilidade política proporcionada pelo regime. Essas mensagens eram veiculadas nos meios de comunicação e também por meio de cartazes, faixas e outdoors espalhados pelas cidades.

Brasil, Ame-o ou Deixe-o: Este slogan buscava incentivar o patriotismo e a aceitação inquestionável do regime, sugerindo que aqueles que não concordassem com o governo deveriam deixar o país.

Ninguém mais segura este País: Utilizado como um slogan para transmitir a ideia de que o regime militar era capaz de superar qualquer obstáculo e garantir a segurança e a ordem no país.

Propagandas Nacionalistas

Propagandas Nacionalistas

Música

Durante o regime militar no Brasil, diversas músicas foram produzidas e divulgadas para apoiar o governo e propagar a ideologia do regime. Essas músicas buscavam transmitir mensagens de patriotismo, ordem, progresso e apoio aos líderes militares. No entanto, é importante ressaltar que muitas dessas canções eram patrocinadas e propagandeadas pelo governo, sendo uma forma de controle da cultura e da expressão artística.

Eu te amo, meu Brasil

A música “Eu Te Amo, Meu Brasil” é uma canção patriótica que exalta as belezas naturais, culturais e sociais do Brasil. Ela foi escrita por Dom e Ravel e lançada em 1970, durante o período do regime militar no país. A letra da música transmite uma mensagem de amor e orgulho pela nação brasileira, enfatizando suas riquezas e destacando elementos positivos da cultura e do povo brasileiro.

 

Este é um país que vai pra frente

A música “Este é um País que vai pra frente” é uma canção que exalta o progresso e o desenvolvimento do Brasil. Ela foi escrita por Lamartine Babo e lançada em 1972, durante o período do regime militar no país. A letra da música busca transmitir uma mensagem de otimismo e confiança no futuro, enfatizando os avanços e as conquistas do Brasil.

Futebol como Espetáculo Nacional e Ferramenta de Distração

Durante o regime militar no Brasil, o futebol desempenhou um papel fundamental como um espetáculo nacional e uma ferramenta de distração para desviar a atenção da população dos problemas políticos e sociais do país. O governo reconhecia o poder mobilizador do futebol e investiu na construção de estádios grandiosos e na promoção de competições esportivas como forma de entreter e unir a nação em torno de uma narrativa de sucesso e glória esportiva.

Construção de Estádios

A construção de estádios grandiosos foi uma estratégia utilizada pela propaganda do regime para reforçar a imagem de um país moderno, desenvolvido e alinhado aos ideais de progresso promovidos pelos militares. Esses estádios foram projetados para serem monumentos imponentes, símbolos visíveis do avanço e da grandiosidade do regime.

Morumbi

Um exemplo emblemático é o Estádio do Morumbi, localizado em São Paulo. Sua inauguração total ocorreu durante o regime militar, em 25 de janeiro de 1970, e se tornou um ícone da propaganda do período. Sua grandiosidade e modernidade foram destacadas nas campanhas de promoção do regime, retratando-o como um símbolo do progresso e desenvolvimento do país. A partida de inauguração foi entre São Paulo Futebol Clube e Porto, de Portugal, e terminou empatada em 1 a 1. O jogo teve a presença do presidente da República, o general Emílio Garrastazu Médici, e do governador paulista, Abreu Sodré. Era o auge da ditadura militar.

Vista aérea do Estádio do Morumbi, na véspera de sua inauguração em 1970.

Vista aérea do Estádio do Morumbi, na véspera de sua inauguração em 1970.

Mineirão

Outro exemplo é o Estádio Mineirão, também conhecido como Estádio Governador Magalhães Pinto. Localizado em Belo Horizonte, foi inaugurado em 5 de setembro de 1965, durante o regime militar, e serviu como um poderoso instrumento de propaganda do governo. Sua imponência e capacidade para mais de 60.000 espectadores foram utilizadas como símbolo do avanço do país sob o regime militar.

Magalhães Pinto, que leva seu nome ao estádio, participou ativamente da conspiração que precedeu o Golpe Militar de 1964 no Brasil e foi um dos signatários do Ato Institucional Número Cinco (AI-5).

Mineirão em fase de construção durante a década de 1960.

Mineirão em fase de construção durante a década de 1960.

Beira-Rio

Inaugurado em 6 de abril de 1969, o Estádio Beira-Rio, localizado em Porto Alegre, foi construído durante o regime militar e se tornou um importante componente da propaganda do período. Com capacidade para mais de 50.000 espectadores, o estádio foi exaltado como um símbolo do avanço e desenvolvimento do país sob o governo militar. Sua modernidade e infraestrutura foram utilizadas para promover a imagem de um Brasil forte e unido.

Estádio Beira-Rio

Estádio Beira-Rio

Castelão

O Estádio Castelão, localizado em Fortaleza, foi inaugurado em 11 de enovembro de 1973 e teve grande importância no contexto da propaganda do regime militar. Sua construção e modernização foram apresentadas como símbolos de progresso e desenvolvimento do país. O estádio foi projetado para comportar um grande número de pessoas, com capacidade para mais de 60.000 espectadores, e sediou diversos jogos de futebol importantes, incluindo partidas da seleção brasileira.

Castelão - 1973

Castelão – 1973

 

Outras construções grandiosas em municípios de cidades pequenas também visavam descentralizar as atividades esportivas e atrair a atenção para além das principais cidades. Através dessa propaganda, o regime militar procurava consolidar sua imagem de desenvolvimento, conquistando a lealdade e o apoio das populações locais. Esses estádios, como instrumentos propagandísticos, eram utilizados para reforçar a narrativa de um país unido e em progresso, onde o governo central estava presente em todas as regiões, fortalecendo o seu poder e controle sobre o território nacional.

Taça Independência

A Taça Independência foi um torneio de futebol amistoso organizado durante o regime militar no Brasil, em 1972, como parte das comemorações dos 150 anos da independência do país. O evento foi utilizado como uma forma de propaganda para reforçar a ideia de união nacional e celebrar as conquistas do regime.

Através da competição, o governo buscava transmitir a imagem de um Brasil unido, próspero e em constante evolução. A propaganda em torno da Taça Independência enfatizava a força e o talento dos jogadores brasileiros, destacando sua superioridade em relação às demais seleções participantes.

Além disso, o torneio foi utilizado para promover a imagem do regime militar como um governo capaz de organizar grandes eventos esportivos e impulsionar o desenvolvimento do país. A construção de novos estádios e a modernização das infraestruturas esportivas eram parte integrante dessa estratégia de propaganda.

O evento contou com a participação de várias seleções, incluindo o Brasil, Argentina, Alemanha Oriental, União Soviética, entre outras. A partida foi final, entre Brasil e Portugal, bastante equilibrada, com chances para ambos os lados. No entanto, o Brasil conseguiu a vitória por 1 a 0, com um gol marcado pelo atacante Jairzinho aos 44 minutos do segundo tempo. Foi um momento de grande festa e comemoração para a torcida brasileira, que viu sua seleção conquistar o título do torneio.

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Seleção Brasileira

Copa de 70: O tri da seleção de Médici 🏆🏆🏆

A seleção brasileira de 1970 desempenhou um papel central nessa estratégia propagandística do Regime Militar. Sob o comando do técnico Mário Zagallo e com jogadores icônicos como Pelé, Jairzinho, Rivellino e Tostão, o time encantou o mundo com seu estilo de jogo ofensivo e habilidoso, conquistando o tricampeonato na Copa do Mundo realizada no México.

O regime militar aproveitou-se desse feito esportivo para projetar uma imagem de sucesso e superioridade do Brasil. A seleção brasileira de 1970 foi transformada em um símbolo de união nacional e suposto progresso sob o governo militar.

Através das propagandas, a população brasileira era bombardeada com mensagens de que o sucesso da seleção estava diretamente relacionado à estabilidade e aos avanços do país sob o governo militar. A imagem de jogadores talentosos e vitoriosos representava a suposta eficiência do regime, enquanto os títulos conquistados serviam como uma vitrine para a grandiosidade e a força do Brasil no cenário internacional.

Além disso, os jogos da seleção brasileira eram utilizados como oportunidades para grandes eventos propagandísticos. Os estádios eram tomados por bandeiras, cartazes e símbolos nacionais, reforçando a identificação entre o futebol e o sentimento patriótico. Hinos e cânticos patrióticos eram entoados antes e durante as partidas, criando uma atmosfera de exaltação à nação e ao regime militar.

A propaganda em torno da seleção brasileira de 1970, durante o Regime Militar, foi uma forma de manipulação da paixão nacional pelo futebol em prol dos interesses políticos do governo. Através da exaltação dos feitos esportivos, o regime tentava criar uma imagem de sucesso, união e progresso, desviando a atenção dos problemas políticos e sociais que permeavam o país naquele período.

Intervensão militar na seleção brasileira

Na época em que João Saldanha era técnico da seleção brasileira, durante o regime militar no Brasil, houve uma interferência do governo na convocação dos jogadores. O presidente Médici tentou influenciar a seleção pedindo a convocação de Dadá Maravilha. No entanto, Saldanha se recusou a atender esse pedido e afirmou de forma contundente: “Ele escala o ministério, eu convoco a seleção”.

Essa atitude não foi bem recebida e, pouco antes da Copa do Mundo, ele foi demitido do cargo de técnico da seleção brasileira. Para substituí-lo, foi chamado Mário Zagallo, que havia sido bicampeão mundial como jogador em 1958 e 1962.

Zagallo assumiu a responsabilidade de convocar os jogadores para o torneio e Dadá Maravilha estava entre os selecionados. No entanto, mesmo tendo sido convocado, Dadá não teve a oportunidade de jogar nem mesmo um minuto sequer durante a competição.

“Eu não entendo nada de política”

Pelé dando soco no ar na estreia contra Tchecoslováquia

Pelé dando soco no ar na estreia contra Tchecoslováquia

 

A demissão do treinador João Saldanha nas vésperas da Copa e a chegada de Mário Zagallo foram pouco discutidas pelos jogadores na época. A imprensa também enfrentava restrições devido à censura imposta pelo regime militar. A opinião de Saldanha de que era difícil tolerar sua presença no comando da seleção, dado seu histórico no Partido Comunista Brasileiro, indica a influência política e a necessidade de alinhamento ideológico no contexto da época.

“Eu não entendo nada de política”, disse o volante clodaldo à época. Essa postura de evitar comentários sobre política ou sobre o governo Médici era comum entre os jogadores.

Lemyr Martins, autor de uma famosa fotografia de Pelé dando soco no ar na estreia contra Tchecoslováquia, dizia que havia um pacto entre os jogadores da Seleção Brasileira de 1970 para evitar falar sobre política durante a competição. Segundo Martins, esse pacto tinha como objetivo evitar desentendimentos entre os jogadores, e não por medo, mas para não serem afetados pelo tema político. Além disso, o fotógrafo menciona que havia jogadores que eram favoráveis ao regime militar, assim como no jornalismo da época, mas também havia jogadores que não se expressavam sobre política. Alguns jogadores, como Gérson, pareciam não se importar com política e estavam mais focados no futebol.

Oposição ao Regime

Durante o período de ditadura, o governo utilizava a propaganda como uma ferramenta para promover sua agenda política e moldar a opinião pública. Por outro lado, alguns jogadores de futebol, conscientes do poder de sua influência e utilizando sua visibilidade, se manifestaram publicamente contra o regime, seja através de gestos, declarações ou posicionamentos políticos.

João Saldanha

João Saldanha, técnico da seleção brasileira que levou o Brasil à Copa, era visto pelo regime militar como uma figura incômoda e potencialmente perigosa devido às suas posições políticas críticas.

Saldanha era conhecido por suas ligações com movimentos de esquerda e por expressar opiniões contrárias ao regime militar. Sua postura e engajamento político eram vistos como uma ameaça à narrativa de estabilidade e harmonia que o governo buscava propagar. Nesse contexto, o regime militar via Saldanha como um elemento indesejado que poderia interferir nas estratégias de propaganda e no controle da imagem da seleção brasileira.

A decisão de afastar Saldanha da seleção e substituí-lo por Mário Zagallo, um técnico com uma trajetória mais alinhada aos interesses do regime, pode ser interpretada como uma tentativa de controlar a imagem da equipe e evitar possíveis divergências políticas que poderiam afetar a propaganda do regime.

A propaganda durante o regime militar buscava transmitir uma imagem de união, progresso e sucesso do Brasil. A presença de uma figura como Saldanha, com suas posições políticas e críticas ao regime, poderia comprometer essa narrativa e levantar questionamentos sobre a realidade do país sob o governo militar.

João Saldanha foi demitido do cargo de treinador pouco antes da copa por não concordar com o regime militar

João Saldanha foi demitido do cargo de treinador pouco antes da copa por não concordar com o regime militar

Reinaldo

Reinaldo, ex-centroavente lendário do Atlético Mineiro, foi deixado de fora da convocação para a Copa do Mundo por Telê Santana, que alegou que o jogador tinha uma vida boêmia e não estava em forma. No entanto, Reinaldo havia feito seu último jogo apenas um mês antes da convocação. Na revista Placar, Sócrates, Júnior, Zico e Éder defenderam a convocação de Reinaldo, mas Telê tinha restrições ao seu comportamento.

“A única coisa que o Reinaldo sabe fazer é jogar futebol. Mas andaram colocando na cabeça dele que ele é intelectual, que ele tem que ajudar os índios, o Lula, o Frei Beto” – disse Telê, na época.

Durante a Copa do Mundo de 1978, Reinaldo já havia afrontado o regime militar ao comemorar um gol levantando o braço e cerrando o punho, inspirado em movimentos de protesto contra o racismo. Antes da viagem para a Copa, o presidente Geisel cumprimentou Reinaldo e disse para ele jogar bola, deixando a política para eles. No entanto, a cúpula militar da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) orientou Reinaldo a não realizar sua comemoração, considerada “muito revolucionária”. Após o gol, Reinaldo foi afastado da seleção e não jogou mais nenhuma partida naquela Copa, que terminou com a Argentina sendo campeã.

Em 1981, a polêmica em torno de Reinaldo envolvia estereótipos de comunista, maconheiro e gay, embora o jogador nunca tenha se declarado homossexual. Telê Santana, assim como Coutinho em 1978, colaborou com a propaganda e imagem do regime militar ao perseguir Reinaldo e deixá-lo de fora da convocação para a Copa de 1982.

Punho erguido de Reinaldo virou sua marca

Punho erguido de Reinaldo virou sua marca

Dr. Sócrates

Em 1982, quando questionado sobre a não convocação de Reinaldo, Sócrates afirmou que “bebia em uma noite o que Reinaldo bebia em um ano”, negando que a ausência do jogador fosse devido a boemia.

Além disso, Sócrates foi um dos precursores do Movimento Democracia Corinthiana, juntamente com Casagrande, Wladmir e Zenon. O movimento revolucionou a forma de pensar no Corinthians, implementando um modelo de autogestão no clube, onde funcionários, dirigentes, atletas e torcedores tinham o mesmo poder de decisão em questões como contratações, gastos e divisões salariais.

Além disso, Sócrates se tornou uma voz dentro das torcidas organizadas, propagando a mensagem de democracia e Diretas Já para todo o Brasil.

Sócrates de punho erguido

Sócrates de punho erguido

Conclusão

Durante o regime militar no Brasil, a propaganda foi uma ferramenta essencial para manipular a opinião pública e transmitir a imagem de um país em crescimento. Os estádios grandiosos eram utilizados como símbolos desse suposto desenvolvimento, porém, muitos deles se tornaram elefantes brancos, representando um desperdício de recursos.

A seleção brasileira, mesmo sofrendo interferências do governo, foi usada como instrumento de propaganda para exaltar o suposto sucesso do regime. A conquista do tricampeonato mundial em 1970, embora tenha sido uma grande realização para o país, foi utilizada para promover a ideia de que o regime militar estava no caminho certo.

No entanto, nem todos os jogadores se alinhavam com o regime militar e suas políticas. Alguns nomes, como João Saldanha e Reinaldo, foram prejudicados por suas divergências e posicionamentos políticos contrários ao governo. Suas exclusões da seleção e perseguições evidenciam a tentativa de silenciar vozes discordantes e impor uma narrativa favorável ao regime.

É importante lembrar desses episódios da história do futebol brasileiro para compreendermos como o esporte e a propaganda foram utilizados como instrumentos de manipulação política durante o regime militar. Essas histórias nos alertam sobre os perigos da instrumentalização do esporte e reforçam a importância da liberdade de expressão e do respeito aos direitos individuais, mesmo em tempos de turbulência política.

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